segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma pseudo-comédia

     Ontem re-assisti um filme britânico baseado no livro de nick Hornby. Chama-se (tanto o livro, como o filme) "About a boy", traduzido (terrivelmente, como sempre) aqui no Brasil como "Um grande garoto". 
     O filme está na categoria de comédia. E ele nos dá, sim, momentos de risos. Mas rir do garotinho esquisito que não se encaixa e de seu louco relacionamento com um canalha  da maior estirpe fica em segundo plano quando descobrimos "qual é" a da história.
     O personagem Will (Hugh olhos-tortos Grant) insiste durante quase todo o filme que os homens são ilhas. São todos solitários. Podem receber visitas de barquinhos, turistas... Mas no final, sempre voltam à condição de ilhas (solitárias e sozinhas no imenso oceano).
     Acontece, que não somos ilhas. Somos homens (leia-se homens e mulheres). Somos bichinhos sociais. Vivemos em sociedade. E mesmo que nos soltassem no meio do mato, procuraríamos nos relacionar com algo (como as meninas-lobo russas que conviveram com lobos na floresta, ou como o personagem de Tom Hank em "O náufago", que se relaciona com uma bola de vôlei Wilson). 
     Somos interação, troca. É assim que somos, sociais. Somos uma parte do todo que é a sociedade.
     Constituímos a sociedade (que nos dá sentido e só existe conosco). E aí vira uma questão de lógica. Se só fazemos sentido formando o todo (que é a sociedade), então temos que cuidar da sociedade. E só há uma maneira de cuidar dela: cuidando de todas as parteszinhas que constituem esse todão que é a sociedade global, universal ou sei lá o quê.
     Uma bobagem essa história de ilha. Estamos mais para gotinhas d'água que formam o oceano, ou partículas que formam o universo.

3 comentários:

JEFFERSON CLAUSE disse...

O filme tem aquele típico humor inglês, que só eles entendem às vezes. Riso de situações que parecem trágicas, mas sem debochar delas ou menosprezá-las. Em About a boy, esse humor contido e civilizado de lordes britânicos desvela-se nos personagens aparentemente solitários, que acabam por tornarem-se solidários em sua solidão. Talvez a metáfora da ilha para a personalidade ou para o destino humanos tenha algo de verdade apenas no que diz respeito à intrínseca singularidade que nos diferencia de outros egos; mas não quando tratamos de nossas necessidades humanas. Somos imanentemente sociais. Só nos damos conta de nossa existência porque existimos com o outro e para o outro. Muitas vezes, a graça da vida reside na difícil travessia do ego para a alteridade. Podemos até ser ilhas; mas ilhas rodeadas do vasto oceano que é o amor, que nos interconecta ao mesmo tempo em que sabe respeitar a individualidade de cada um de nós. Coisa louca, né? Adorei o post. Me trouxe muitas reflexões. ;)

Yvonne Carvalho disse...

Então parafraseando o próprio protagonista do filme. Somos ilhas, mas fazemos parte de arquepélogos. Somos ilhas por sermos únicos, singulares. Ok. Mas, sim, rodeados de interação (quiçá seja amor). E formamos um enorme arquipélogo. Como estrelas que formam infinitas costelações no céu.
=D
Adorei seu comentário, lindão. Tu sois fera mesmo! HuHuHUh

JEFFERSON CLAUSE disse...

Eu acunho! :D
Beijão. =*